Como um gesto de ternura

Gostava de escrever com música. Que houvesse uma música qualquer nas minhas palavras. Que a folha branca fosse uma pauta na qual disponho as notas, agora palavras. Gostava que quem me lesse ouvisse a música. Uma música suave, longínqua, quase inaudível. Imagino que é isso que procuro quando escrevo. Uma música qualquer que me ajude a continuar. Que me ensine a escolher as palavras certas. Gostava que essa música surgisse devagar, ao ritmo da escrita, na melodia da leitura. Que se instalasse de forma imperceptível. Que diluísse quem escreve, que entrasse no sangue de quem lê. Suave, como um gesto de ternura.

4 comentários:

Alba disse...

jctp, já lá estiveste, por diversas vezes, tu sabes :)

Isabela Figueiredo disse...

Eu, por acaso, também acho que tens um bom ritmo. Que sabes. Mas vou dizer-te qual é o segredo, e não contes a ninguém:
- escreve sempre, sempre, mesmo quando não tiveres papel. Escreve pensando. Escreve na cabeça. Escreve todos os dias. Não aproveites tudo o que escreves. Escreve, escreve, escreve, sem objectivo nenhum. Se queres pensar, escreve. Vicia-te na escrita como na água, na comida, no tabaco.
Depois, vais ouvir a música que tu queres ouvir, porque só tu sabes qual é a tua, a que o teu ouvido quer ouvir.
Sei que não ajudei. Mas é mais ou menos assim.

Rita disse...

Se há alguém que escreve como se fizesse música, esse alguém és tu, jctp. E tu sabes, como diz a Alba.

Pena, voltamos a conversas antigas, que tenhas delapidado (apagado) tanto desse teu/nosso património.

Beijo.

Anónimo disse...

Acabei de te encontrar através da Alba, e digo-te que neste bocadinho, na cadência do que procuras, talvez ainda a não tenhas ouvido, talvez ainda não te tenhas diluído, talvez ainda não tenha entrado no meu sangue,

mas entrou no meu coração e tão suavemente que meus olhos húmidos ficaram.